Onda de calor: quais as consequências para a pele e como protegê-la?

Alona Siniehina/GettyImages
Alona Siniehina/GettyImages

A exposição solar e a umidade, comuns diante das altas temperaturas, podem levar ao surgimento ou agravamento de doenças de pele.

A atual onda de calor sufocante que atinge, principalmente, as regiões Sul e Sudeste do Brasil nas últimas semanas pode trazer diversos riscos à saúde. Na segunda-feira (18), o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) emitiu um alerta de “grande perigo” para as regiões por conta das altas temperaturas.

Além dos riscos para o coração e o maior suscetibilidade para a desidratação, o calor extremo também pode ser perigoso para a pele. É o que alerta o dermatologista Cauê Cedar, titular da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).

“Quando falamos em calor e, principalmente, em verão, as atividades ao ar livre aumentam e a radiação solar incide com mais intensidade. Isso aumenta bastante o risco de queimadura e câncer de pele“, afirma Cedar.

Além disso, pelo fato de o Brasil ser um país tropical, é comum que, durante o verão e períodos com ondas de calor, como a atual, as pessoas lotem praias e piscinas, ficando expostas, também, à humidade em excesso. “Isso acaba sendo um cenário bastante propício para o aparecimento de condições de pele”, completa o especialista.

Outra questão que influencia no surgimento de doenças de pele durante o verão é a cultura do bronzeamento. É comum ver pessoas se expondo ao sol nos horários com maior incidência de radiação ultravioleta, entre às 10h e às 16h, para “pegar uma cor”. “Isso propicia ainda mais o aparecimento de algumas condições atreladas a essa radiação”, comenta Cedar.

De acordo com o dermatologista, as principais condições de pele que são comuns no verão e com o aumento da temperatura são:

Queimadura solar

A queimadura solar é aquela vermelhidão na pele comum após a exposição solar. Ela pode vir acompanhada de sintomas como dor, sensibilidade, queimação, ardência e mudança de textura da pele, podendo levar à descamação.

Em casos mais graves, a queimadura solar pode levar à insolação, quadro caracterizado por dor de cabeça, febre, enjoo, vômitos, mal-estar e desidratação.

Acne solar

De acordo com a SBD, a acne solar é uma condição provocada pela mistura da oleosidade aumentada da pele — comum no verão — com suor, uso de filtro solar e a própria radiação solar.

A acne solar pode aparecer, também, em outras regiões além do rosto, como costas e ombros. A SBD recomenda lavar a pele com um sabonete adequado para pele oleosa, usar tônicos adstringentes e filtros solares com base aquosa ou em gel, para diminuir a oleosidade.

Dermatite seborreica

dermatite seborreica é uma inflamação na pele que causa descamação e vermelhidão em algumas áreas da face, como sobrancelhas, couro cabeludo e orelhas. A descamação da pele, característica dessa condição, é chamada popularmente como “caspa”.

Essa é uma doença crônica, com períodos de melhora e piora dos sintomas. Conforme noticiado pela CNN Brasil, de acordo com Cedar, o calor em excesso pode agravar a dermatite seborreica. Para prevenir, alguns cuidados incluem uso de xampu adequado para o couro cabeludo com essa condição, manter uma alimentação saudável, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e evitar banhos quentes.

Rosácea

rosácea é uma doença que afeta a pele, principalmente na região do centro do rosto. Ela é caracterizada por uma pele sensível, que se irrita com facilidade diante do uso de alguns produtos dermatológicos, ácidos e, também, diante do calor.

“A rosácea é uma dilatação excessiva dos vasos da pele, o que gera uma alteração vascular que dá aquele aspecto de pele vermelha ou rosada”, explica Cedar. “No calor, temos o aumento da exposição à radiação ultravioleta e o aumento da temperatura. Como resposta, temos um processo de vasodilatação, e isso leva ao aumento do aporte sanguíneo no rosto e, consequentemente, a rosácea fica mais aparente”, completa.

Os sintomas característicos da rosácea podem ficar mais intensos com as altas temperaturas, incluindo a ardência na pele, ondas de calor na região do rosto, coceira e, em alguns casos, surgimento de pústulas e pequenas bolhas na face.

Melasma

melasma é uma condição caracterizada pelo surgimento de manchas escuras na pele, principalmente no rosto, sendo mais comum em mulheres. Suas causas ainda não estão totalmente esclarecidas, mas, de acordo com a SBD, o uso de anticoncepcionais femininos, a gravidez e a exposição solar estão entre os fatores de risco para o desenvolvimento da condição, além da predisposição genética.

“Se pensamos no verão como o aumento da incidência da radiação ultravioleta e o aumento da temperatura por consequência disso, a luz solar e o calor são fatores que podem exacerbar o melasma”, afirma o dermatologista.

“A exposição à radiação ultravioleta de uma pele que já tem melasma aumenta a pigmentação da pele de uma forma geral, acentuando o contraste entre a área do melasma e as áreas com menos pigmentação”, completa.

Isso acontece porque a exposição solar aumenta a produção de um hormônio chamado melanócito estimulante, que induz a produção de melanina, o pigmento da pele. Com o aumento da atividade desse hormônio, a pele tem uma maior predisposição à hiperpigmentação, levando às manchas características do melasma.

“Isso pode acontecer mesmo se a pessoa estiver com os braços de fora e o rosto coberto. Ou seja, é possível exacerbar o melasma facial a partir da exposição à radiação ultravioleta em outras áreas do corpo”, afirma Cedar.

Pano Branco (micose)

pitiríase versicolor, popularmente chamada de pano branco, é um tipo micose comum no verão. “As micoses são infecções causadas por fungos e, às vezes, criamos condições para que eles se proliferem, podendo causar disfunções na pele”, afirma Cedar.

No caso do pano branco, a micose é causada por fungos do gênero Malassezia e os dois principais fatores para sua proliferação são o calor e a umidade. Seus sintomas são caracterizados por manchas redondas ou ovais, recobertas por escamas finas, principalmente no tronco e nos braços.

Além do pano branco, outras micoses também podem ser comuns no verão. “Calor, umidade e a baixa imunidade fazem com que os fungos se reproduzem e causem doenças principalmente nas unhas e nos pés, mas também em outras partes do corpo. E todos estão igualmente predispostos a isso: criança, idoso, adulto, adolescente, homem e mulher”, afirma o dermatologista.

Para prevenir o surgimento de micoses, é fundamental manter um bom hábito de higiene, secando bem os pés e dobras após o banho, evitando o contato prolongado de roupas úmidas com a pele (por exemplo, as sungas, maiôs e biquínis) e evitar andar descalço em pisos úmidos.

Brotoeja

brotoeja é o nome popular para miliária, uma dermatite inflamatória causada pela obstrução das glândulas sudoríparas, o que impede a saída do suor pelo corpo. Ambientes quentes e úmidos favorecem o aparecimento dessa condição de pele, de acordo com a SBD.

“As brotoejas são aquelas bolhinhas que surgem, principalmente, nas crianças, devido ao contato da pele com o suor, principalmente nas dobrinhas da própria pele da criança”, explica Cedar. Essas pequenas bolhas na pele também podem surgir na região do tronco, pescoço e axilas.

Como proteger a pele durante as ondas de calor?

Para proteger a pele no verão, a dica clássica é válida: use protetor solar com FPS (fator de proteção solar) de, no mínimo, 30, segundo a recomendação da SBD. Além disso, é preciso que o FPS esteja atrelado à proteção contra radiação UVA, indicada pela abreviação PPD (Persistent Pigment Darkening). Essas informações podem ser encontradas no rótulo do filtro solar.

Além do filtro, é fundamental proteger a pele com o uso de chapéu, roupas de algodão ou com tecidos que protejam da radiação ultravioleta (principalmente para atividades ao ar livre), evitar a exposição solar durante os períodos de maior incidência do solar (entre 10h e 16h), uso de sombrinhas (ou guarda-chuvas) para andar na rua e uso de óculos de sol.

“A hidratação também é um fator importante que, muitas vezes, é deixado de lado. Além disso, por conta da umidade, é importante secar a pele adequadamente, evitar o contato prolongado com roupa úmida e, se por algum motivo, exagerou no sol, tomar alguns cuidados pós exposição solar, como uso de loção pós sol, compressas geladas e hidratação da pele”, finaliza Cedar.

Por: Gabriela Maraccini

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