Equipe de cirurgiões cardiovasculares, coordenada pelo médico Marco Antonio Araujo de Mello, do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS/Ebserh) desenvolveu um estudo sobre um tratamento cirúrgico inovador, alinhado com as mais recentes recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), para pacientes que optam por não receber sangue de doadores. A proposta alternativa foi publicada na revista científica internacional American Journal of Case Reports.
“A autotransfusão intraoperatória é uma excelente alternativa ao sangue alogênico (doado)”, destaca Mello. Essa técnica, segundo o médico, utiliza um recuperador de células, uma máquina que recupera o sangue do próprio paciente durante a cirurgia. Esse sangue é lavado, filtrado e reinfundido, mantendo o mesmo DNA do paciente, eliminando assim os riscos de reações alérgicas, inflamatórias e imunológicas que poderiam ocorrer caso o paciente recebesse sangue de uma outra pessoa doadora. Entre os benefícios da autotransfusão estão: disponibilidade imediata do sangue do próprio paciente, diminuição do tempo de internação hospitalar, redução de infecções e mortalidade, além de diminuir a demanda de sangue homólogo proveniente das agências transfusionais, como a Rede Hemosul MS. O Humap-UFMS/Ebserh já possui com uma máquina de faz a recuperação de células, o que permite a realização do procedimento no hospital.
Durante a pandemia de Covid-19, que levou à situação de baixos estoques de sangue, a técnica de autotransfusão sanguínea se tornou uma alternativa para a realização de cirurgias de emergência em Mato Grosso do Sul. “Essa é uma técnica inovadora por dois aspectos: pelo fato de utilizar o equipamento dando condição ao paciente que não deseja receber sangue doado fazer a autotransfusão; e também, como segundo aspecto inovador, por potencializar a vontade do paciente de levar o equipamento para o pós-operatório. Essa nova classe de recuperadores, na qual se enquadra aquele mencionado no artigo, tem um modo de pós-operatório automatizado que é possível fazer a autotransfusão nessa fase do pós-operatório”, explica o pesquisador.
A OMS incentiva fortemente a criação de programas de conservação do sangue do próprio paciente, conhecidos como Patient Blood Management (PBM). O PBM é guiado por três pilares fundamentais: otimizar a massa eritrocitária do paciente, minimizar a perda sanguínea do paciente e otimizar a tolerância fisiológica de cada paciente à anemia. No estudo conduzido pela equipe do Hospital Universitário, houve um foco especial em minimizar a perda sanguínea do paciente. Além do uso intraoperatório do recuperador de células, a técnica foi aplicada nas primeiras 24 horas de pós-operatório, conectando o recuperador ao dreno do mediastino na unidade coronariana. “Houve uma recuperação de um volume de 690 ml de hemácias no pós-operatório, além de 1430 ml no intraoperatório”, destaca. “O desfecho clínico do paciente foi muito satisfatório, com alta hospitalar no nono dia de pós-operatório, sem complicações cirúrgicas e, o mais importante, respeitando a sua autonomia”.
Hospitais ao redor do mundo buscam instituir protocolos para racionar o consumo de sangue, um critério de qualidade hospitalar promovido por agências certificadoras, como a Joint Commission International. Um hospital que recebe um selo de qualidade compromete-se a reduzir a prática médica transfusional.
Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Essas unidades, vinculados a universidades federais, têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Fonte e foto: Assessoria de Comunicação do Humap-UFMS/Ebserh