Prévia da inflação de agosto reduz pressão sobre juros, dizem analistas

Índice ficou em 0,19% no mês, após ter registrado 0,30% no mês anterior. Nos últimos 12 meses, a variação do IPCA-15 foi de 4,35%, abaixo dos 4,45% observados nos 12 meses imediatamente anteriores

O argumento em defesa de uma manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano na reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom) ganhou força nesta terça-feira (27) após o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) registrar uma desaceleração no mês de agosto.

Visto como uma prévia da inflação oficial, o índice ficou em 0,19% no mês, após ter registrado 0,30% no mês anterior. Nos últimos 12 meses, a variação do IPCA-15 foi de 4,35%, abaixo dos 4,45% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em agosto de 2023, a taxa foi de 0,28%.

Economistas e consultorias entendem que o resultado aponta para a tendência corrente de queda da inflação. Soma-se a isso, a avaliação de que um recuo de juros nos Estados Unidos – praticamente antecipado pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na semana passada – também beneficia o Brasil para prosseguir no afrouxamento da política monetária.

“A tendência de queda da inflação corrente está em curso. Assim, reforçamos nossa expectativa de que o IPCA de agosto, contribuirá para a manutenção da Selic em 10,50% em setembro”, avalia a Ativa Investimentos em nota.

A corretora esperava uma desaceleração ainda maior para agosto, apostando em alta de 0,13%. No entanto, liga a queda menor como uma “surpresa pontual”.

Na avaliação da economista para Brasil no BNP Paribas, Laiz Carvalho, o índice também ratifica a projeção de que o Copom manterá os juros no próximo encontro. A instituição esperava uma alta de 0,14% no mês.

Na opinião do BNP, a composição geral do IPCA veio “muito boa”, mas ainda há sinais de alerta. “Quando olhamos a média móvel dos últimos três meses sazonalizada, os serviços subjacentes ainda preocupam um pouco, é algo que o BC acaba olhando bastante de perto e que traz uma preocupação bastante grande desses serviços. Então, este ainda é um sinal de cautela. Mas, de maneira geral, é uma composição de IPCA muito boa”, conclui.

O Inter avalia que a tendência de queda deve se manter nos próximos meses, prevendo que o IPCA consolidado deve ser ainda menor que o IPCA-15.

“O dado de hoje contribui para não aumentar ainda mais a pressão sobre os juros. Com a expectativa de uma inflação menor em agosto e o início do ciclo de cortes nos juros americanos, mantemos a expectativa de Selic constante pelo futuro próximo”, diz a instituição em seu comunicado.

Por outro lado, chama a atenção para os números dos serviços. No período, o resultado do segmento desacelerou, recuando de 0,70% em julho para 0,29% em agosto.

“Apesar da desaceleração do item em agosto, no acumulado em 12 meses a tendência ainda é de alta, com a inflação de serviços alcançando 5,14%, enquanto a de subjacentes subiu para 4,97%”.

Ainda que exista a pressão no grupo dos serviços, a leitura do C6 é de que a Selic deve ser mantida em setembro. Para 2025, a projeção do banco é de que os juros terminem o ano em 9%.

“O resultado do IPCA-15 reforça nossa visão de que a Selic deve ser mantida em 10,5% até o final de 2024. Por ora, acreditamos que os fundamentos observados pelo Banco Central não indicam a necessidade de um aperto adicional na política monetária”, avalia o C6.

Economia aquecida

Apesar do número ter o potencial de aliviar as pressões sobre a política monetária, a análise de manutenção da Selic em setembro ainda não está disseminada no mercado.

De acordo com as últimas informações noticiadas pela CNN Brasil, para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a desaceleração já era esperada e não impede uma inflação próxima do teto este ano, nem muda as expectativas para 2025. Em sua avaliação, a atividade econômica segue forte, o que contribui para a decisão do BC de elevar os juros.

Contudo, Vale não enxerga a necessidade de uma postura enérgica do Copom: “Isso [o dado] reforça apenas a ideia de que a alta deve ser moderada, não havendo necessidade de nada muito agressivo”.

Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, cita alguns fatores que corroboram para uma leitura da necessidade de um pequeno ciclo de alta dos juros a partir de setembro.

“A expectativa para o ano está acima de 4%. A expectativa para o próximo ano caminha para acima de 4% e, para 2026, está em 3,60%. Portanto, as expectativas estão desancoradas. A economia está muito aquecida, algumas casas colocando um crescimento de 3% este ano… um mercado de trabalho muito apertado. Apolítica de transferência de renda do governo criou um mecanismo de expansão de demanda muito forte. […] Mesmo com Selic alta, a economia cresce e começa a pressionar a capacidade instalada”, diz Gala.

Para o Itaú, o setor de serviços deve seguir pressionado pelo mercado de trabalho apertado nos próximos meses.

Já o Pic Pay cita como riscos e coloca sob monitoramento monitoramos uma maior resiliência na inflação de serviços, a desvalorização do real frente ao dólar e a desancoragem das expectativas em um contexto de percepção de risco fiscal no Brasil.

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