Depois de usar inteligência artificial para descobrir a primeira palavra a ser lida em um pergaminho fechado de Herculano, uma equipe de pesquisadores revelou várias passagens quase completas do texto antigo, fornecendo informações sobre a filosofia de quase 2.000 anos atrás.
Os pergaminhos de Herculano são centenas de papiros que sobreviveram à erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C. No seu estado carbonizado, os documentos antigos desmanchariam se alguém tentasse desenrolá-los, e qualquer escrita nas peças sobreviventes seria quase ilegível ao olho humano.
Ao utilizar tecnologia informática e inteligência artificial avançada, os investigadores podem agora analisar os pergaminhos de Herculano sem desenrolar e arriscar danificar os documentos extremamente frágeis.
Mais de 2.000 caracteres – as primeiras passagens completas – foram decifrados de um pergaminho, de acordo com um anúncio feito na segunda-feira por cientistas da computação que lançaram o Desafio Vesúvio, uma competição criada para acelerar as descobertas feitas nos pergaminhos.
“É incrivelmente gratificante saber que essas coisas estão disponíveis e que agora temos um mecanismo para lê-las – e que as ler criará todo um campo de estudo e estudos para os classicistas”, disse Brent Seales, professor de ciência da computação na da Universidade de Kentucky e co-criador do Desafio Vesúvio.
A primeira palavra a ser lida em um pergaminho fechado foi encontrada separadamente por Luke Farritor e Youssef Nader – um estudante de ciência da computação na Universidade de Nebraska e um estudante de pós-graduação em biorrobótica na Freie University Berlin, respectivamente – em outubro.
Este ano, acompanhados por Julian Schilliger, estudante de robótica na ETH Zürich, os três ganharam o grande prêmio de US$ 700 mil do concurso por serem a primeira equipe a decifrar mais de 85% dos caracteres de quatro passagens contínuas no mesmo pergaminho.
Além disso, a equipe foi além dos requisitos do concurso e leu 15 colunas parciais de texto, totalizando cerca de 5% da rolagem.
O trio descobriu o texto aplicando uma técnica conhecida como “desembrulhamento virtual” ao pergaminho enrolado – um dos vários pertencentes ao Institut de France – que foi divulgado no site do concurso.
Conforme noticiado pela CNN Brasil, o processo envolveu o uso de tomografia computadorizada, um procedimento de raios-x para escanear o papiro enrolado e deformado, permitindo aos pesquisadores achatar virtualmente os pergaminhos e detectar a tinta na página com IA avançada.
Depois que Farritor, Nader e Schilliger encontraram as letras gregas, papirologistas especialistas da Inglaterra, França e Itália foram trazidos para avaliar o texto.
“Se você observar o nível do vocabulário [das passagens], há uma conversa intelectual realmente matizada acontecendo aqui. Fico entusiasmado em querer entregar aos estudiosos uma cópia absolutamente imaculada e completa do que é isso, para que eles possam fazer seu trabalho e então possamos entendê-lo completamente”, disse Seales, que originalmente criou o método de desembrulhar e vem desenvolvendo a tecnologia há quase 20 anos.