Especialistas explicam que relação entre cortes nos juros americanos e aumento da Selic refletem resultados das políticas de controle inflacionário e cenário econômico interno de cada país
Os Estados Unidos reduziram as taxas de juros nesta quinta-feira (7), consolidando as projeções do mercado de um segundo corte nas taxas americanas. Enquanto isso, no Brasil, a política monetária do Banco Central (BC) adota uma postura oposta de elevar a taxa Selic.
Economistas consultados pela CNN explicam que o corte nos EUA e o aumento brasileiro refletem os resultados das políticas de controle inflacionário e o cenário econômico interno de cada país.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou os juros em 0,5 ponto nesta quarta-feira (6), levando a Selic a 11,25% ao ano.
Enquanto isso, o Federal Reserve (Fed) nesta quinta cortou suas taxas de juros em 0,25, chegando na faixa de 4,5% e 4,75% ao ano.
Lívio Ribeiro, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e sócio da BRCG Consultoria, explica que decisões de juros dos EUA e Brasil apontam momentos diferentes do cenário doméstico de ambos.
“Apesar de poder ser utilizada como referência no mundo, os juros dos EUA não definem um norte para economia mundial no curto prazo. O cenário entre os países de problemas de demanda e gastos são parecidos, tirando a inflação, que caí nos EUA, dando conforto para o Fed fazer esse ajuste”, diz.
Conforme noticiado pela CNN Brasil, segundo Ribeiro, a reversão da postura do BC de subir a Selic após um ciclo de afrouxamento acontece com uma mudança na percepção da possibilidade de controle inflacionário com taxas de juros mais baixas.
Adoção de postura mais rígida vem em um momento em que o controle fiscal e gastos do governo federal entram no radar de preocupação do mercado.
Rodolfo Olivo, professor da FIA Business School, atribui a preocupação com a condução da política fiscal como o principal motivo para esse aumento inflacionário no Brasil.
“A política fiscal do governo federal é muito expansionista, que influencia no aumento da demanda e no consumo, que alimenta a inflação. Por isso, o pacote de gastos proposto pelo Ministério da Fazenda é importante para ancorar a expectativa dentro da meta [da inflação] definida.”
Alexandre Espírito Santo, coordenador de economia e finanças da ESPM e economista da Way Investimentos, destaca que a falta de sincronia entre as taxas de juros nos EUA e brasileira são puramente coincidência e não estão correlacionadas.
“A inflação dos EUA mostra sinais de desaceleração, dando ao Fed a possibilidade de adotar uma postura mais flexível, uma vez que o aumento de preços está mais próximo da meta inflacionária estabelecida.”
Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos têm metas para o controle da inflação. No caso do Brasil, o BC persegue a meta de 3% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
Em setembro, o índice foi a 4,42% no acumulado em 12 meses, próximo do teto perseguido pela autoridade monetária. Os dados de outubro serão publicados nesta sexta-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Já nos Estados Unidos, o Fed mira o patamar de 2% para os preços. Em setembro, o índice de preços de Despesas de Consumo Pessoal, que é o indicador de inflação preferido do Fed, mostrou que os preços subiram 2,1% no ano.
Elson Gusmão, diretor de câmbio da consultoria Ourominas, ressalta que a queda recente dos juros nos EUA é resultado do sucesso em desacelerar a inflação.
“A queda nas pressões inflacionárias e a estabilidade no mercado de trabalho permitiram essa flexibilização, que agora busca evitar uma desaceleração econômica muito intensa.”
Por: Patrick Fuentes