A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) aumentou em 4,1% no trimestre, a maior alta dos últimos quatro trimestres. A FBCF, que representa investimentos em novas máquinas, equipamentos, fábricas e construções indica um aumento da capacidade produtiva futura.
A composição desse crescimento com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que registrou um crescimento de 0,8% no primeiro trimestre deste ano, a maior alta dos últimos três trimestres, é muito positiva. O PIB brasileiro está em torno de R$ 10 trilhões, o que representa um acréscimo aproximado de R$ 80 bilhões na produção e renda na economia.
Um PIB que cresce de forma equilibrada é impulsionado por investimentos, uma ótima notícia aqui para Brasil. A FBCF reagiu possivelmente à queda na taxa Selic, que tem sido menor nos últimos meses, incentivando empresários a investirem mais.
Os indicadores de inflação trouxeram notícias não tão boas. O último IPCA de maio divulgado veio um pouco acima do esperado pelo mercado, com alta de 0,46%, contra uma expectativa de 0,40%.
Os núcleos da inflação, que excluem maiores altas e quedas, subiram de uma média de 0,27% em abril para 0,39% em maio. Os preços de serviços subjacentes ou estruturais pioraram um pouco, de 0,33% de alta no mês passado para 0,41%, preços de serviços em geral pioraram, de 0,05% para 0,40%.
Dos nove grupos, oito tiveram alta, com destaque para alimentos e bebidas. Conforme noticiado pela CNN Brasil, a coleta de preços de alimentos em Porto Alegre já captura alguns efeitos da tragédia com alta do IPCA de 0,87% no município. Acumulamos já uma inflação de 3,93% em 12 meses, acima da meta de 3%, mas ainda abaixo da inflação dos últimos anos.
O IBGE também divulgou o IPP de abril, que mede os preços ao produtor da indústria, mostrando uma alta de 0,74% em abril em relação a 0,35% da última leitura. O INCC da FGV também mostra alta nos preços da construção civil e os IGPs estão pressionados.
A desvalorização do real devido a incertezas fiscais e manutenção de juros altos nos EUA também traz pressões inflacionárias. A tarefa do Banco Central brasileiro de atingir a chamada última milha no controle da inflação não está fácil. O dragão está domado, mas ainda não conseguimos chegar na meta. Os dados recentes de aumento dos investimentos ajudam o BC nessa tarefa. O respeito às regras do arcabouço fiscal também.
Mais sobre o PIB
Os dados do IBGE para o primeiro trimestre mostram também um aumento relevante de importações, possivelmente de tecnologia e máquinas para ampliar nosso parque produtivo.
O consumo das famílias também teve um aumento significativo de 1,5%, refletindo um mercado de trabalho mais aquecido. O desemprego caiu no país para 7,5%, e a criação de vagas formais foi forte em abril, com 240 mil novas vagas registradas pelo Caged. No ano chegamos a quase um milhão de vagas formais criadas com carteira assinada. Esse mercado de trabalho robusto contribuiu para o aumento da massa salarial e do consumo das famílias.
O setor de serviços apresentou uma alta de 3% em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, e o setor industrial subiu 2,8% na mesma comparação. A indústria extrativa teve um crescimento de quase 6% no primeiro trimestre desse ano, puxada por commodities como minério de ferro e petróleo.
A indústria da transformação registrou uma alta mais tímida de 1,5% no primeiro trimestre deste ano em comparação ao quarto trimestre do ano passado, e a agropecuária, apesar de sua recuperação em relação ao último trimestre do ano passado, ainda está abaixo do registrado no ano anterior em 3%.
De modo geral, o PIB do primeiro trimestre deste ano é bastante positivo, com aumentos no investimento, consumo das famílias, serviços, e um consumo do governo estabilizado, sem aumento. A notícia de que os empresários estão investindo é encorajadora para o futuro da economia brasileira.
Por: Paulo Gala * Investidor, Professor na FGV/SP, Economista-Chefe do Banco Master