Gigante asiático e trabalho no campo contribuíram para o bom resultado da economia no ano passado, mas impulsos podem não se repetir neste ano.
A economia brasileira em 2023 superou as expectativas do mercado. O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu mais do que o de países avançados, como Estados Unidos, Japão, Alemanha e França.
O bom resultado foi puxado pelo setor agropecuário que, por sua vez, foi beneficiado pela China.
Um grato impulso em 2023, mas que inspira cautela em 2024.
A expectativa de menor crescimento da China neste ano divide especialistas entre os que avaliam que as exportações do agro brasileiro podem ser impactadas e os que acreditam que a demanda chinesa por produtos primários brasileiros não será alterada, mesmo se a desaceleração do PIB chinês se concretizar.
Mas economistas concordam que o agronegócio não deve repetir o desempenho brilhante de 2023.
Vamos aos números. O maior destaque positivo do crescimento de 2,9% do PIB brasileiro foi a agropecuária, que avançou 15,1% no ano.
O agronegócio fechou 2023 com um saldo positivo entre o que foi importado e exportado (superávit) de US$ 148,6 bilhões.
As exportações do setor somaram US$ 165 bilhões em 2023, um crescimento de 3,9%.
O agronegócio representou quase metade de tudo o que foi exportado pelo país em 2023, chegando a 48,6%.
A carta de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de janeiro explica o bom desempenho das exportações no setor.
“Além da menor oferta de importantes players, como Estados Unidos e Argentina, que permitiu melhor inserção do Brasil no mercado internacional, os envios à China — principal destino da soja brasileira — também se intensificaram significativamente ao longo de 2023”, informa.
O relatório do Ipea diz ainda que a alta da comercialização de milho no primeiro semestre de 2023 foi robusta em relação a 2022, mas o resultado expressivo do setor no ano “foi puxado pelo bom desempenho das lavouras do milho segunda safra e pelo forte impulso de demanda pela economia chinesa.”
Em 2023, as exportações para a China somaram US$ 104,3 bilhões e representaram 30,7% de tudo o que foi exportado pelo país.
“Com certeza as exportações ajudaram a impulsionar o crescimento do agro”, diz Leonel Oliveira Matos, analista de inteligência de mercados da StoneX.
“A China é o nosso principal parceiro comercial e demanda muito do Brasil, especialmente produtos primários. Mas com a perspectiva de que em 2024 a China não consiga manter o mesmo ritmo de crescimento, a demanda de produtos primários pode ser pressionada e o Brasil pode vender menos ou a preços mais baixos este ano”, diz.
No próximo dia 5 de março, a China realiza a segunda sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional, quando serão definidas diretrizes políticas e econômicas para o país.
Há uma ampla expectativa de que o governo chinês defina uma meta de crescimento para a segunda maior economia do mundo de 5%, assim como em 2023.
Mas diferentemente do ano passado, quando a meta foi de 5% e o PIB cresceu 5,2%, neste ano organismos internacionais preveem que o PIB chinês desacelere para algo entre 4,5% e 4,9%.
A Academia Chinesa de Ciências Sociais, a mais alta instituição acadêmica do país, espera que o crescimento seja ligeiramente superior, variando entre 4,8% e 5%.
Gilberto Cardoso, CEO da Tarraco Commodities, acredita que a meta de 5% não deve ser atingida, mas em sua visão isso não deve impactar o agro brasileiro.
“O agro brasileiro não precisa temer, porque está exportando para a China consumo agrícola, principalmente proteína. Isso não deve cair no curto prazo, porque há um aumento de consumo de proteína, uma melhora na dieta dos chineses, que está se tornando muito mais parecida com a do Ocidente, então isso favorece todo o agro brasileiro”, diz.
O especialista pondera que apenas no longo prazo, por volta do ano de 2050, a queda da população chinesa pode afetar de forma mais significativa as exportações de commodities brasileiras. Mas não é algo para se preocupar por ora.
De acordo com as últimas informações noticiadas pela CNN Brasil, Cardoso acrescenta que a exportação brasileira de minério de ferro pode ter um ligeiro aumento, com as maiores mineradoras brasileiras, Vale e CSN, atingindo suas metas de elevar exportações neste ano.
“E o Brasil também está aumentando a exportação de petróleo. Com a combinação de agro forte, uma exportação estável de minério, no pior dos cenários, e aumento exportação de petróleo, a China continua a ser muito importante”, diz.
Apesar de não esperar um impacto da desaceleração chinesa nas exportações do agronegócio, Cardoso acredita que o setor pode ser impactado de outras formas.
“O PIB não vai ter esse grande impulso do agro para 2024 porque já há expectativa de um agro mais fraco este ano, diante de alguns problemas de safra e secas no Brasil”, afirma.
Seja por impactos internos ou externos, um crescimento robusto do agronegócio não é esperado para 2024.