Com a recente elevação da taxa Selic para 10,5% ao ano, a economia brasileira enfrenta desafios significativos, especialmente em setores que dependem diretamente do crédito e do consumo. A alta nos juros, que visa conter a inflação, tem gerado dificuldades para segmentos como construção civil, varejo e indústria, colocando o crescimento econômico do país em sinal de alerta.
Investimentos ameaçados na construção civil
O setor da construção civil é um dos mais sensíveis à variação dos juros, pois depende de investimentos de longo prazo e financiamento acessível. Renato Correia, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), destaca que o setor opera de forma competitiva com juros em torno de 9%, mas qualquer taxa superior a isso torna as operações inviáveis a longo prazo. “Com juros em 10,5% ao ano, os custos se tornam proibitivos, impactando tanto as empresas quanto os consumidores que buscam adquirir imóveis”, afirma.
Segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), a atual taxa de juros afeta diretamente a capacidade de aquisição da casa própria. Uma redução de 1% na taxa de financiamento habitacional poderia reduzir em 8% o valor das parcelas de um imóvel de R$ 400 mil, ampliando o acesso à moradia para aproximadamente 400 mil famílias.
Consumo no varejo sob forte pressão
No setor varejista, a alta dos juros tem um impacto direto sobre o comportamento do consumidor, que tende a restringir gastos diante do encarecimento do crédito. Felipe Tavares, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), observa que o varejo é especialmente vulnerável a variações na confiança dos consumidores. “Os juros elevados desencorajam o consumo, o que, por sua vez, reduz o faturamento das empresas do setor”, explica.
A manutenção dos juros em patamares elevados pode gerar um efeito cascata, onde o consumo reduzido afeta o crescimento econômico e, por consequência, dificulta a recuperação do setor. Tavares adverte que, se essa situação persistir, o varejo pode enfrentar um ciclo prolongado de retração, agravando ainda mais a economia.
Indústria
A indústria brasileira também sente os efeitos adversos da elevação dos juros. Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), critica a decisão do Banco Central de manter a Selic em níveis altos, alertando que essa medida encarece o crédito e restringe a atividade econômica. “A alta dos juros compromete a capacidade das empresas de investir, limitando o crescimento e a criação de empregos”, ressalta.
Mesmo com o crescimento de 1,8% no segundo trimestre, conforme divulgado pelo IBGE, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) expressa preocupação com a sustentabilidade desse crescimento. A entidade defende a necessidade de uma política fiscal mais ativa para complementar a política monetária, visando reduzir os riscos econômicos e garantir um ambiente mais favorável para o investimento industrial.
Perspectivas para a economia
A elevação dos juros, enquanto ferramenta de controle inflacionário, apresenta desafios significativos para setores essenciais da economia brasileira. A construção civil, o varejo e a indústria enfrentam barreiras que podem limitar o crescimento e a recuperação econômica no longo prazo. A solução, segundo especialistas, passa por uma combinação de políticas fiscais e monetárias que permitam a redução sustentada dos juros, promovendo assim um ambiente mais estável para investimentos e crescimento econômico.
Enquanto isso, o consumidor e as empresas devem continuar a se adaptar às condições adversas, buscando alternativas para mitigar os impactos dessa nova realidade econômica.
Por: Mato Grosso do Sul-Notícias *com ifn da CNN