Especialistas avaliam impacto de falas de Lula sobre conflito em Gaza no comércio entre os países
As relações diplomáticas entre Israel e Brasil ficaram estremecidas após falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último domingo (18).
Durante viagem à Etiópia, Lula afirmou que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza não é uma guerra, mas um genocídio” e comparou o cenário atual ao do Holocausto, o extermínio praticado pelo regime nazista de Adolf Hitler contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Com a repercussão negativa que a fala teve, há potencial de impactar na relação comercial entre os dois países? Para o consultor em comércio exterior e especialista em Oriente Médio, Michel Alaby, o impacto deve se restringir mais ao campo diplomático.
“A declaração dele [Lula], nesse primeiro momento, traz problemas das relações políticas. Mas não traz nas relações econômicas. Porque a grosso modo elas são feitas no meio empresarial”, avalia o sócio da Alaby & Associados, diretor regional no estado de São Paulo da Câmara de Indústria e Serviços do Brasil-Cisbra e da Caesp.
“Você tem muitos interesses vinculados de Israel no Brasil e vice versa. Então não acredito que até o médio prazo você vai ter complicações.”
Em 2023, a balança comercial entre Brasil e Israel ficou em cerca de US$ 2 bilhões, sendo Israel o 34º país que mais exportou para o Brasil no ano (US$ 1.351.954.692).
A cifra, contudo, representa uma queda de 49,7% na corrente entre os dois países ante 2022, ano em que o total de transações cresceu em 130,2%. Ainda assim, o Brasil teve sua melhor balança comercial da história em 2023.
A queda, observada após agosto e acentuada ao final do ano, pode ser explicada pelos conflitos, tanto em Israel quanto na Ucrânia, de acordo com o CEO da DigiComex, um sistema de comércio exterior, Alexandre Gera.
“O que explica esse movimento é principalmente os conflitos, todos. Incluindo a participação direta de Israel na guerra contra o Hamas. Ou seja, o fato de Israel fazer parte do conflito, faz com que muitos dos produtos que antes eram consumidos, parem ou tenham uma redução considerável, já que a população está vivendo em uma sociedade mais perigosa do que se estivessem em clima de paz.”
De acordo com as últimas informações noticiadas pela CNN Brasil, entre os principais produtos que o Brasil importa de Israel, destacam-se insumos da indústria química. Os grupos dos fertilizantes (45% ou US$ 608 milhões) e dos inseticidas (11% ou US$ 144 milhões) representam mais da metade das importações brasileiras no ano passado.
Os demais produtos da indústria de transformação que o Brasil compra dos israelenses são variados, de insumos da indústria têxtil (cerca de 4% ou US$ 80,2 milhões) até aeronaves (3,1% ou US$ 41,7 milhões) e armas e munições (1,2% ou US$ 16,6 milhões).
Já as exportações do Brasil para Israel ficaram em US$ 662 milhões em 2023. Os três principais grupos exportados foram “óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, cru” (21%), “carne bovina fresca” (19%) e “soja” (18%).
Países do Oriente Médio tendem a ser grandes importadores de insumos alimentares do Brasil devido às vastas áreas desérticas da região, que impedem esses países de serem grandes produtores e assim suprir suas populações.