Saiba quem ganha e quem perde com a popularidade da semaglutida, medicamento para diabetes que virou febre para perda de peso.
A popularidade do Ozempic, da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, pode impactar diversos setores da economia nos próximos anos, que vão desde turismo a lojas de material de construção. É o que revela um estudo realizado pela gestora de fundos de investimento Ace Capital.
Segundo o levantamento, a redução da ingestão calórica de toda população somada não deve ser relevante, mas o consumo de alguns tipos de alimentos pode ser mais afetado que outros.
Ozempic: quem ganha e quem perde?
No caso do setor de alimentos, um dos setores apontados como negativo é o varejo alimentar. Isso porque as pessoas que utilizam Ozempic ou similares (como Saxenda e Victoza) tendem a deixar de consumir alimentos mais calóricos — biscoitos, chocolates, ultraprocessados, entre outros — e passem a ter preferência pelos mais saudáveis.
E essa já é uma realidade nos Estados Unidos. O Walmart, que comercializa tanto alimentos quanto o próprio Ozempic, relatou ter notado que indivíduos que compram medicamentos antiobesidade estão consumindo menos comida. A declaração foi dada pelo CEO da empresa, John Furner, à Bloomberg.
Além disso, o segmento de bares e restaurantes e a indústria de bebidas também podem ser negativamente afetadas, uma vez que a alimentação fora de casa e o consumo de álcool também tende a diminuir por usuários do medicamento.
No meio do caminho, aparece a indústria de proteína animal. Segundo o estudo da Ace Capital, a redução de consumo de calorias deve atingir o consumo de proteínas animais, mas “tendências seculares” podem compensar os efeitos dos medicamentos antiobesidade.
Os impactos também são considerados neutros para os planos de saúde, uma vez que o levantamento não considera que os contratos ofereçam cobertura dos medicamentos antiobesidade em curto prazo.
Com impacto considerado positivo pelo uso do Ozempic, aparecem as drogarias, devido ao aumento de tráfego nas lojas. No entanto, o estudo ressalta que medicamentos antiobesidade têm margem de lucro baixa.
Além disso, o varejo de vestuário também pode se beneficiar com o uso do medicamento, uma vez que a tendência é de que as pessoas renovem seus guarda-roupas a partir da perda de peso.
Já o varejo de material de construção, o mercado de joias e o setor de turismo aparecem como produtos ou serviços identificados como “aspiracionais”.
Segundo o levantamento, essas categorias poderiam ser favorecidas em um cenário em que os medicamentos à base de liraglutida e semaglutida se tornem mais acessíveis após o vencimento das patentes no Brasil, em 2024 e 2026, respectivamente.
“A Novo Nordisk tenta judicialmente a extensão desses prazos. Se confirmados os fins dessas patentes, acreditamos que a indústria farmacêutica local, com alto expertise na produção de genéricos, oferte rapidamente medicamentos genéricos a preços substancialmente menores”, diz o relatório.
Efeito Ozempic: impacto que vai além da saúde
As ações da Novo Nordisk subiram 69% desde o início de 2023, dando à empresa uma capitalização de mercado de US$ 420 bilhões (cerca de R$ 2 trilhões, na cotação atual).
As ações dispararam no início de agosto após a farmacêutica publicar os resultados de um teste de cinco anos sobre o impacto do Wegovy nas doenças cardiovasculares.
A droga demonstrou reduzir o risco de ataque cardíaco, derrame ou morte relacionada ao coração em 20%.
A Novo Nordisk é a terceira empresa mais valiosa da Europa, superando as farmacêuticas Roche e AstraZeneca.
De acordo com as últimas informações noticiadas pela CNN Brasil, um aumento na demanda por seus medicamentos que ajudam as pessoas a perder peso levou a uma escassez mundial, causando problemas para pacientes com diabetes que dependem do Ozempic para controlar sua condição.
De acordo com uma pesquisa realizada em julho pela Kaiser Family Foundation, quase metade dos adultos americanos disseram que estariam interessados em tomar um medicamento para perda de peso que sabiam ser seguro e eficaz.
Por: Amanda Sampaio