O uso do medicamento sem orientação médica pode trazer efeitos colaterais indesejáveis e complicações à saúde.
O Ozempic, medicamento da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, ganhou popularidade nos últimos anos devido ao seu efeito no emagrecimento. Indicado para o tratamento do diabetes tipo 2, o remédio tem como um dos efeitos a perda de peso e tem sido usado off label (ou seja, fora das indicações da bula) para fins estéticos.
Mas será que esse uso do Ozempic para emagrecer é seguro? Segundo especialistas consultadas pela CNN, sim, o uso é seguro. Inclusive, a semaglutida (principal componente do remédio) é aprovada para esse fim pelos órgãos reguladores nos Estados Unidos e pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Brasil.
“A semaglutida, presente no Ozempic, está aprovada para o uso no tratamento da obesidade. Porém, no caso do Ozempic, o uso é off label, não está prescrito na bula, mas o uso da molécula está liberado para a perda de peso”, afirma Lorena Lima Amato, endocrinologista com título da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia).
A semaglutida é uma droga da classe dos análogos do hormônio GLP-1, que atua na secreção da insulina pelo pâncreas, que exerce um papel importante na regulação da glicose no sangue. No entanto, a semaglutida também ajuda a promover uma maior sensação de saciedade, podendo atuar no processo de emagrecimento.
Inclusive, existe um outro medicamento à base de semaglutida que é indicado para o tratamento da obesidade, o Wegovy, que foi aprovado pela Anvisa em janeiro de 2023.
“Ambos os medicamentos são seguros para a perda de peso. A única diferença é a canetinha. A caneta do Ozempic vai até 1 mg e a caneta do Wegovy vai até 2,4 mg, porque estudos mostraram que a semaglutida em uma dose maior é mais efetiva para a perda de peso do que uma dose de até 1 mg, como é o caso do Ozempic”, explica Elaine Dias J.K., PhD em endocrinologia pela USP e metabologista.
Apesar de seguro, o uso para emagrecer traz riscos e deve ser feito com acompanhamento médico
Assim como toda medicação, os remédios à base de semaglutida podem trazer efeitos colaterais e riscos à saúde, principalmente se usados indevidamente, ou seja, sem prescrição e acompanhamento médico. “O principal risco é não saber manejar a dose, não saber manejar esses efeitos colaterais e relacionados à medicação”, diz Amato.
Entre os efeitos colaterais possíveis do uso do Ozempic, segundo as especialistas, estão:
- Náuseas;
- Inapetência excessiva;
- Diarreia;
- Vômitos;
- Mal-estar;
- Dor de cabeça;
- Dificuldade para se alimentar;
- Desidratação (devido aos vômitos e diarreia);
- Pedra na vesícula, devido à rápida perda de peso.
“Tanto o Ozempic, quanto o Wegovy, devem ser prescritos pelo médico que acompanha o paciente para que ele auxilie e oriente como evitar esses efeitos colaterais”, ressalta J.K..
Além disso, de acordo com um estudo feito com o Ozempic publicado em 2021, após 68 semanas de medicação, 86,4% dos participantes perderam 5% ou mais do peso corporal. Apesar de isso estar relacionado ao emagrecimento, a perda de peso corporal também pode diminuir a massa muscular e a densidade óssea, podendo levar à sarcopenia (perda gradual de massa muscular, força e função).
Para somar, se não houver uma reeducação alimentar após a perda de peso, associados à prática de exercícios físicos, pode ocorrer o famoso “efeito sanfona“. “Existe o risco de ganhar peso quando se encerra o uso do Ozempic, a partir do momento que a pessoa não muda seus hábitos de vida. Então, o certo é fazer uma mudança no estilo de vida atrelado ao uso do medicamento”, orienta J.K.
“Por isso, é tão importante o acompanhamento médico regular, porque o especialista vai saber o momento de tirar a medicação e como fazer isso, além de orientar outras medidas associadas à perda de peso sustentável”, complementa Amato.
Como a semaglutida atua no organismo e por que ela ajuda a emagrecer?
A semaglutida, por ser um análogo do hormônio GLP-1, atua diretamente na secreção de insulina pelo pâncreas, ajudando a regular o nível de glicemia. Por isso, ela é indicada para o tratamento de diabetes tipo 2. No caso do emagrecimento, a molécula ajuda a retardar o esvaziamento gástrico, promovendo uma sensação de saciedade mais prolongada.
“Essa diminuição do esvaziamento gástrico faz com que a comida fique parada mais tempo no estômago e isso faz com que a pessoa tenha a sensação de saciedade mais rápida e demora mais tempo para ter fome novamente”, explica Amato.
Além disso, o análogo do GLP-1 também atua no sistema nervoso central, nas vias de regulação do apetite. “O medicamento atua nessa região do hipotálamo, diminuindo a fome e melhorando a saciedade. Além disso, também atua na região do hipocampo, melhorando a seleção dos alimentos, ou seja, ele faz com que a gente prefira comidas mais saudáveis”, completa J.K.
Para somar, em pessoas com obesidade, o sistema de regulação do apetite podem estar prejudicadas devido a uma inflamação. “O medicamento auxilia nessa desinflamação, melhorando a sinalização para o cérebro de controle do apetite”, esclarece Amato.
Por: Gabriela Maraccini