Ambos os medicamentos são aprovados para o tratamento do diabetes tipo 2, mas um se mostrou mais “poderoso” que o outro; veja as diferenças.
O Ozempic, medicamento para o tratamento do diabetes tipo 2 da Novo Nordisk, ganhou popularidade devido aos seus efeitos no emagrecimento, sendo muito utilizado, inclusive, off label para a perda de peso. Isso acontece graças à ação da semaglutida, seu principal componente.
Porém, em outubro do ano passado, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou um novo medicamento para tratar diabetes, o Mounjaro (sintetizado pela Eli Lilly do Brasil) que se mostrou, em estudos, ser mais poderoso que o Ozempic para a perda de peso. Mas, afinal, qual é a diferença entre eles?
De acordo com Tassiane Alvarenga, endocrinologista e metabologista pela USP (Universidade de São Paulo), a principal diferença entre Mounjaro e Ozempic está na composição: o primeiro é composto de tirzepatida, uma molécula agonista duplo de GLP-1 e GIP, hormônios gerados no intestino e liberados depois das refeições. Isso significa que o medicamento tem a capacidade de estimular a ação tanto do GLP-1, quanto do GIP, aumentando a produção de insulina pelo pâncreas para manter o controle do açúcar no sangue.
Já o Ozempic é composto por semaglutida, uma droga da classe dos análogos do hormônio GLP-1. Ele também atua na secreção da insulina pelo pâncreas, regulando a glicose no sangue e promovendo, também, a redução do apetite, conforme explica Lorena Lima Amato.
De acordo com Alvarenga, tanto o GIP quanto o GLP-1 estão ligados a uma maior secreção de insulina, mas estudos levam a crer que o GIP responda por cerca de dois terços dessa contribuição. Isso faz com que a tirzepatida seja mais “poderosa” do que a semaglutida.
“O Mounjaro induz à sensação de saciedade, ou seja, o tempo entre comer e ficar satisfeito. É um efeito mais duradouro do que a perda do apetite, que é a principal característica do Ozempic”, explica a endocrinologista.
De acordo com a especialista, o efeito da perda de apetite da semaglutida se deve à estagnação da comida no estômago, enquanto a tirzepatida mantém a taxa metabólica e a perda de gordura independente da ingestão calórica. “Ainda estamos entendendo o motivo, mas isso explica a maior perda de peso gerada pelo Mounjaro”, acrescenta.
Além disso, o fato de a tirzepatida estimular receptores de dois hormônios aumenta seus efeitos positivos. “Quando ele estimula esses dois receptores há uma sinergia na resposta. Então a gente vê um resultado melhor tanto em diminuição de glicemia quanto em diminuição de peso”, disse a endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Disbetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
O que dizem os estudos?
Um estudo da Truveta Research, publicado em novembro do ano passado, comparou os ativos do Mounjaro e do Ozempic em adultos com sobrepeso e obesos. Os participantes que fizeram uso de tirzepatida tiveram maiores taxas de sucesso na perda de peso corporal e na perda de peso significativa aos três, seis e 12 meses de tratamento.
Além disso, os participantes de ensaios clínicos do Mounjaro perderam de 5 kg a 11 kg, com uma perda de peso relatada de 21,1% após 12 semanas e uma perda de peso média total de 26,6% ao longo de 84 semanas, de acordo com a Eli Lilly. Já nos ensaios clínicos da Novo Nordisk, os usuários do Ozempic perderam entre 4,2 kg e 6,3 kg. Em média, reduziram cerca de 15% o peso corporal após 68 semanas.
Apesar disso, vale lembrar que o Mounjaro não é aprovado para o tratamento da obesidade e, sim, apenas para o diabetes tipo 2. No Brasil, existe outro medicamento já autorizado para a perda de peso, o Wegovy, que também é composto por semaglutida, mas em dosagem diferente do Ozempic.
Em relação ao diabetes, o estudo SURPASS-2 mostrou que a tirzepatida superou a semaglutida na redução dos níveis de hemoglobina glicada (A1C). As doses de 5 mg, 10 mg e 15 mg da tirzepatida apresentaram reduções de A1C de 2,01, 2,24 e 2,30, respectivamente, superando a redução de 1,86 da semaglutida na dose de 1 mg.
Diferenças nos efeitos colaterais também podem ser percebidas
O mesmo estudo SURPASS-2 mostrou que tanto a tirzepatida quanto a semaglutida tem efeitos colaterais semelhantes, mas os efeitos da primeira molécula podem ser mais numerosos e mais graves. De acordo com o trabalho, o Mounjaro pode causar doenças gastrointestinais graves. Em ensaios clínicos, mais pessoas pararam de tomar o medicamento devido a efeitos secundários gastrointestinais.
Ambos os medicamentos podem causar sintomas como dor abdominal, constipação, diarreia, náusea e vômito. A tirzepatida pode causar, ainda, a indigestão.
Por isso, é essencial buscar orientação médica antes de iniciar o tratamento, seja com Ozempic, seja com Monjauro.
Fonte: CNN Brasil *Com informações de Léo Lopes